Gravações de conversas telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam como dois investigados na Operação Satiagraha tentaram corromper um delegado para livrar o banqueiro Daniel Dantas das acusações de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.De todos os envolvidos, o único que era considerado foragido se apresentou às autoridades em São Paulo. No Centro de Detenção Provisória de Guarulhos (CDP), na Grande São Paulo, está preso Humberto José da Rocha Braz, assessor de Daniel Dantas e ex-presidente da Brasil Telecom. Procurado desde a semana passada quando teve a prisão preventiva decretada por corrupção, Humberto Braz - o Guga - se entregou no domingo à noite (13), na sede da Polícia Federal, em São Paulo.
Negociação
Humberto e o amigo Hugo Chicaroni, professor universitário, foram flagrados em encontros e telefonemas oferecendo propina para o delegado federal Victor Hugo Rodrigues Alves - toda a negociação foi monitorada com autorização da Justiça. Em uma das gravações obtidas com exclusividade, Hugo comenta com o delegado sobre o papel de Humberto nos negócios do banqueiro Dantas.
Hugo Chicaroni: - Hoje ele é o braço direito do Daniel. Delegado: - E ele é de confiança mesmo? Hugo Chicaroni: - Pode ficar sossegado. Em São Paulo, Hugo Chicaroni e Humberto Braz tentaram manipular a investigação, segundo a polícia.
O objetivo: deixar de fora o banqueiro Daniel Dantas e parentes dele. É o que indicam as gravações. Hugo Chicaroni: - A história de só livrar três tá bom, tá ótimo. Delegado: - Isso é importante, porque quanto menos puder... Precisa saber exatamente o que é. Não dá pra fazer milagre. Hugo Chicaroni: - São as pessoas que trabalham com ele até onde eu sei. É o Daniel, a irmã e o filho...
As interceptações mostram ainda que, segundo Chicaroni, o banqueiro estava preocupado com a Justiça Federal em São Paulo, onde corre a investigação contra ele por crimes financeiros e lavagem de dinheiro. Hugo Chicaroni: - Ele se preocupa com hoje, com hoje. Lá pra cima, o que vai acontecer lá... Ele não tá nem aí. Porque ele resolve. Delegado: - Tá tudo controlado. Hugo Chicaroni: - Ele resolve. STJ e STF... ele resolve. O cara tem trânsito político ferrado.
Hugo Chicaroni se refere ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), as mais altas cortes do judiciário brasileiro. As conversas também falam em propina.
Hugo transmite ao delegado a oferta de suborno proposta, segundo ele, por Daniel Dantas e oferecida por Humberto Braz, assessor do banqueiro. Hugo Chicaroni: - Ele falou: “Eu tenho 500 mil para tratar desse assunto". Delegado: - 500 mil? Hugo: - É, 500 mil dólares.
Segundo a investigação, do dinheiro mandado por Humberto Braz, parte foi paga 20 dias antes da operação policial que levou os envolvidos para a cadeia, como mostra uma gravação feita na frente do prédio em que mora Hugo Chicaroni.
Hugo Chicaroni: - Tá na mão.
Delegado: - Então tá certo, não vamos nem conferir.
Hugo Chicaroni - Não. Eu não conferi. Esses pacotinhos ele me entregou em sacos de supermercado. Eu só pus dentro de uma outra sacola e botei aqui.
Delegado: - Quantos pacotes tem?
Hugo Chicaroni: - São cinqüenta... Dá dez pacotes.
Além do pagamento em parcelas, o valor do suborno dobrou de US$ 500 mil para US$ 1 milhão. É o que apontam as gravações no segundo encontro em São Paulo entre os dois homens que diziam representar o banqueiro Daniel Dantas e o delegado federal. Foi nessa segunda conversa também que o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves apresentou documentos sobre o o banqueiro. Fotos e fichas cadastrais de Dantas foram mostradas durante um almoço em que o assunto era propina. As filmagens mostram o exato momento em que Humberto Braz troca de lugar com Hugo Chicaroni para analisar melhor os documentos.
De acordo com as investigações, quem ajudou a levantar esse dinheiro foi o empresário Naji Nahas, preso na mesma operação semana passada.
Fotos tiradas pela polícia em maio mostram Humberto Braz saindo do escritório de Naji Nahas, na zona sul de São Paulo. É o mesmo escritório que sofreu devassa por ordem judicial. As prisões da Operação Satiagraha foram feitas na terça-feira (8). Mas já em 29 de maio, os envolvidos desconfiavam que pelo menos um deles estava sendo seguido.
É onde entra um novo personagem, o ex-deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT de São Paulo. Ele foi contratado por Daniel Dantas como consultor. O ex-deputado também chegou a ter a prisão pedida pela Polícia Federal, mas o pedido foi negado pela Justiça.
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