A tradicional brincadeira de empinar pipas virou caso de polícia em Goiânia. A diversão da garotada está garantida, mas Polícia Militar e Ministério Público declaram guerra ao uso do cerol nas linhas. Somente este ano, 11 pessoas foram vítimas de acidentes, a maioria motociclistas. No último caso, um motoboy quase foi degolado por uma linha de pipa. No ano passado, foram 29 vítimas.Dionatas Barbosa Magalhães, 20, continua internado em estado grave no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). O corte na garganta atingiu a carótida (artéria que leva sangue ao cérebro), a jugular (veia que recebe o sangue do cérebro) e a traquéia (parte do aparelho respiratório). Ele passou por uma cirurgia de reconstituição e não corre risco de morrer, mas pode ter a fala comprometida devido à profundidade do corte.
O cerol é um composto de pó de vidro e cola que a garotada passa nas linhas das pipas. O objetivo é cortar a linha dos adversários nas "guerrinhas" que travam em diversos pontos da cidade. "Estamos atentos e todas as unidades vão fiscalizar o uso de cerol em todas as regiões da cidade", afirmou o coronel César Pacheco, comandante do Policiamento da Capital.Pipas e linhas foram apreendidas e quem é flagrado usando o produto proibido terá que responder pelo ato.
Se for menor de 11 anos, será encaminhado ao Conselho Tutelar. Se for maior de 12 anos, terá o material apreendido e será encaminhado para a Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai). Se for maior, será preso.
Dezenas de pipas já foram apreendidas. "É uma situação grave e todo ano se repete. Temos problemas sérios e até casos de mortes. E que tem que haver conscientização para acabar de vez", ressaltou o major Wilson Brasil Tavares."Ele foi buscar o irmão na creche. Quando voltava para casa, sentiu a linha cortando e muito sangue saindo.
Ainda conseguiu ir de moto até um posto de saúde, mas se não fosse próximo, poderia nem ter chegado. Por muito pouco meu filho não morreu", disse o pai de Dionatas, o auxiliar de escritório Evani Magalhães, 37.O acidente aconteceu em uma avenida próxima à sua casa, no Jardim Lajeado, região leste de Goiânia. "O problema é que ninguém dá importância. Passei muito perto de perder meu filho. E quem gosta de soltar pipa, que procure um lugar adequado.
Estou revoltado com tudo o que aconteceu, mas aliviado porque felizmente meu filho não morreu", ressaltou Evani.Em 2005, o entregador Divino Antonio Rufino de Rezende, na época com 32 anos, morreu quando trafegava em uma moto Strada pela BR-153, região metropolitana de Goiânia.LegislaçãoEm todo o Brasil vale a norma de que o adolescente flagrado utilizando cerol pode ser encaminhado para a delegacia, juntamente com os pais, onde é lavrado um ato infracional pelo ato de colocar a vida de outra pessoa em perigo (artigo 132 do Código Penal).
Como o menor não pode ser condenado, os pais podem ser enquadrados no artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente por permitir que o filho brinque com substância perigosa.A pena pela infração pode ser o pagamento de multa, que varia de três a 20 salários mínimos. O menor também pode ser obrigado a cumprir medidas sócio-educativas.
No caso de a linha com cerol levar a vítima à morte, o crime é de homicídio, com pena que varia de seis a 20 anos de prisão.A ameaça constante obriga os motocilistas a instalar uma espécie de antena na frente da moto, que intercepta a linha antes que ela atinja o pescoço. "Temos medo. Já vimos colegas feridos e por isso nos precavemos", diz o moto-taxista Marcelo Santana Aires.
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