O relatório do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) sobre as causas da cratera na linha 4-amarela do metrô de São Paulo elenca uma seqüência de falhas do Consórcio Via Amarela entre os principais fatores responsáveis pelo acidente que deixou sete mortos na obra da futura estação Pinheiros.O laudo, que lista 11 problemas que levaram à tragédia, considera que houve descumprimento do projeto pelas empreiteiras. Diante do risco e de sinais de alerta do colapso, elas também deixaram, diz a conclusão do IPT, de adotar providências para a sustentação da obra antes de prosseguir com a detonação de explosivos.
A investigação também responsabiliza a fiscalização "deficiente" do Metrô, além de avaliar que a linha 4 não tinha plano de emergência adequado.
O documento do IPT considera ainda que houve falha inclusive no projeto da obra, que não considerou as "características geológicas do terreno", tido como complexo, embora sem ser impeditivo para a escavação de túneis na região.
O Via Amarela, formado por Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, aproveitou esse problema de projeto citado pelo relatório técnico para dividiras responsabilidades com os trabalhos do Metrô e do IPT.
Em nota, ressaltou que "as pesquisas geológicas que subsidiaram" o projeto da linha 4 foram feitas "pelo próprio IPT, contratado pelo Metrô".
O documento do instituto foi entregue ontem, quase 17 meses após a cratera. O resultadoda investigação é apontado pela gestão José Serra (PSDB) como uma avaliação independente, porém sua isenção será questionada pelas empreiteiras.
O trabalho do IPT, pago pelo Metrô, custou R$ 6,55 milhões. O instituto não quis comentarseu laudo --alega que os resultados pertencem à companhia.
O acidente também é investigado pelo IC (Instituto de Criminalística), órgão ligado à polícia e cujo trabalho está previsto para terminar em agosto.
O laudo do instituto citou 11 fatores contribuintes para a abertura da cratera em 2007.
Entre os principais:
1) O projeto da estação Pinheiros não considerou a geologia complexa do local; assim, a estrutura para a sustentação do túnel foi projetada "com suporte de baixa capacidade";
2) O projeto previa drenagem do terreno, mas foi identificada uma coluna de água que contribuiu para a instabilidade das paredes do túnel em escavação;
3) Houve a inversão no sentido de escavação do túnel sem uma análise adequada, podendo ter havido sobrecarga;
4) Apesar dos sinais de instabilidade do terreno detectados pelos instrumentos, "esses dados não foram utilizados nem para ações corretivas nem para acionar um plano de emergência"; e, mesmo diante do rebaixamento do terreno, a instalação de tirantes de reforço do túnel não foi realizada;
5) Houve uma série de não-conformidades na obra, de "aspectos construtivos" ao "sistema de gerenciamento de risco, aliado à deficiência na fiscalização das atividades de campo";
6) As detonações no dia 12 de janeiro, data da abertura da cratera, produziram vibrações;
7) A inexistência de um procedimento formal "para gestão de risco, plano de contingênciae plano de emergência, fez com que a possibilidade de um colapso de grandes proporçõesnão fosse identificada como perigo plausível".
O relatório do IPT, com 29 volumes e dois CDs, foi entregue às 19h30 de ontem às partes envolvidas no caso.
"Se configurada como causa alguma omissão do Metrô, ela se deu pelo comportamento dealgum de seus empregados. No âmbito do Metrô, vamos apurar. Mas é precipitado dizerqual vai ser a punição e a quem vai recair", afirmou Sérgio Avelleda, diretor de assuntos corporativos da companhia. Até 12 dias antes do acidente, a fiscalização da obra estava a cargo da gestão Geraldo Alckmin (PSDB)/Cláudio Lembo (PFL).
Um relatório divulgado no final de março, feito por um especialista britânico contratadoe pago pelo Via Amarela, avaliava que a cratera tinha sido resultado de uma "fatalidade",decorrente de uma anomalia geológica --uma rocha gigante que não havia sido apontadapelas sondagens no terreno.
O laudo, na ocasião, apontava que a característica do solo "mole" era um fator contribuinte para a tragédia e que, se a escavação fosse mais profunda, esse risco seria minimizado.
DA FOLHA DE S.PAULO.
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